“Começou?” – “Não, não começou!” – “Começou sim, veja”.
Quando começou e quando acabou o espetáculo? Acredito que estou presa nele até agora! A atriz começa sua atuação do lado de fora do teatro, muda. Nos fazendo questionar se faz parte do espetáculo ou não. E desde então começam as perguntas: Qual a linha tênue entre arte e vida? Entre a ficção e a verdade contada em forma de segredo? Entre minhas lembranças ilusórias e o que delas possa ser real? Caos, confusão! O que realmente aconteceu? A verdade basta? A verdade é verdade mesmo? Qual a verdade de cada um? Porque repetir tantas vezes a mesma coisa? Entre palavras rápidas e repetidas, a atriz nos faz passar por uma explosão de sentimentos. O que precisamos tanto entender? Quantos questionamentos um espetáculo pode deixar no espectador?
De início, sabemos que serão reveladas algumas memórias sobre a relação com seu pai. No entanto, o espetáculo é fragmentado em três momentos e cada uma dessas partes apresentam tantos outros pedacinhos que precisamos capturá-los e ligar os pontos. É questionado pela atriz sobre a verdade de suas memórias, se o que ela lembra realmente aconteceu ou se é uma ideia projetada em sua mente ou, até mesmo, se é uma lembrança contada por um outro alguém e ela acredita ser sua. Para nós, espectadores, restam as possibilidades: Foi estupro? Foi incesto? Grávida do próprio pai? Não, não, nenhuma das alternativas. Sim, sim, todas as alternativas! Fui longe demais? Óbvia demais? Neutra demais? Possivelmente não entendi nada, ou tudo! Essa é a minha história ou a história de Janaína Leite? Como escrever uma crítica? Como dar opinião sobre o subjetivo? Como falar sobre a individualidade de uma pessoa? O que de universal tem nesse individual? O que do outro tem em mim? O que de mim tem no outro?
Em um espetáculo como “Conversas com meu Pai” são as perguntas que movem uma crítica, a busca de respostas não passa de uma ilusão!
Andresa Viotti, atriz e integrante do grupo de Grupo de Pesquisa Crítica Literária Materialista.